I. À Distância da Queda de um Sonho

"A história universal é um infinito livro sagrado que todos os homens escrevem e lêem e tentam compreender, e livro este em que também são escritos."
- Thomas Carlyle
Estas ruas não são de ouro porque as memórias não se forjam.

De manhã, com o sol a entrar pelo quarto, levantou-se sem saber onde estava. Olhou pela janela e viu o recorte horizontal de uma cidade. Consegui, venci. Saiu e pelas ruas observou a sua obra mais impressionante. É uma realidade tão cristalina como a outra. Bom dia, senhor presidente, está um belo dia. Disse o psicólogo. Está sim, sorriu.

Personalidades são personagens. Noutro dia, pelo cemitério perguntou. Recorda-me, há quanto tempo és coveiro? Desde que me lembro. Anda. Caminharam juntos até ao hospital. Conheces este homem? Silêncio. Não, porquê? Quem é? Encontrámo-lo assim, é um John Doe. Pode ser que o procurem. Pode ser que o amor o encontre. Eu não contaria com isso.

Outro dia. Olhou pela janela. Passou pelo cemitério e pelo hospital. Nenhum deles sabe quem é. Ao tornar a casa embateu no psicólogo. Bom dia, senhor presidente. Vê por onde andas. No terceiro dia acordou ao lado de alguém. Repetiu a rotina e reencontrou tudo. As personagens contêm-se enquanto tal. Embateu propositadamente no psicólogo. Não vais implicar? Porque haveria?

O livro estatizou tudo. Visitou um velho conhecido que outrora lhe emprestara um livro. Não estou feliz. O psicólogo é ao fim da rua. Não preciso dele. Então o que queres? Esta cidade não é o negócio que fizémos! Cidade? Negócio? Eu não sei de que fala, senhor presidente. Não sabes, pois não? Eu devia ser feliz aqui! Mas já és a pessoa mais poderosa. Toda a gente faz o que quero! E isso é um problema? Só o fazem porque têm do fazer, não porque querem! Não é real! Então o que queres? Nada que me possas dar.

No cemitério procurou por entre jazidas sem fotografias. Procurou nomes em registos. Falta um. Eu torturei e assassinei, fiz coisas horríveis. Devia estar à beira do abismo do remorso. Mas não estou. O que for preciso para que os ímpios não ressurjam.

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