0. Blackout

À beira mar, um jovem de olhos dourados e cabelo esbranquiçado. O mundo é demasiado pequeno. Este corpo tece as escalas do que é menor ou maior. As dimensões, as proporções e as equações fascinaram o tamanho do mundo. Mas há tanto mais perdido no vácuo do mundo que no corpo.

Ao lado um saco com um corpo. Existem vários mundos, um deles terá esse vácuo e lá um corpo sem alma como o teu poderá ter uma casa. Uma plenitude poética com o cenário: serás o protagonista do teu próprio poema-aquário. Uma silhueta sufocada pelo seu contorno.

És um prisioneiro hipócrita, pensas ser prisioneiro do teu corpo-jaula sem o ser. Temes o escuro, mas dormes tão sossegado. A luz cega e amplia a nossa escuridão. Acredita no teu próprio equilíbrio e luta para que não seja corrompido.

As chaves servem para abrir portas. Existem chaves para todos os mundos. Eventualmente vou poder dourar-te um trilho de luz alheia, salvar um amigo como nos salvámos a nós mesmos. Mas o amor, a sua fusão do coração, requer mais do que posso alguma vez dar com o poder de todas as penas, de todas as cores, de todas as tintas dos mundos.

Pode comparar-se a água à alma, mas não a alma à água. Levaste contigo um aquário, o mais precioso que eu tive. Agora conto-gotas de tinta por cima dele para te ver diluir. Não roubes um feiticeiro, feiticeiro. Eu escrevi o meu próprio final feliz e tu és a parte mais desconcertante.
"Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos"
- Luís de Camões

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