V. O Retrato do Artista

O céu era o canvas plano. Sem hierarquias, apenas o reflexo da plena simplicidade. Quando descobrimos a profundeza do céu é que descobrimos a sua hierarquia. A uns promete-se um fim, a outros outro. Parecem depender, esses fins, de escolhas na vida. Mas o código é irreconciliável. Não parece existir uma lógica.

Cemitério de chaves. Entra o alfarrabista. Eu estive nas outras dimensões e já sei tudo. Para quê? Já deves saber que a luz está presa no disco. Que nenhuma história assim terá um final decente. Foi o coração que foi distorcido pela ligação. Foi um acidente. A luz e a escuridão dividiram-se entre nós. Fiz o que achei melhor e exilei-o do universo, no sono.

Não era justo mantê-lo com a pessoa que causou tudo isto. Reescrevi o livro treze vezes e deixei-o sempre de fora. Mas há fantasmas psicológicos. Há algo de contaminante e contaminado em todas as histórias. O diametralmente oposto a um pântano. Luminoso. Agora a escuridão que vaporiza espalha-se pelas treze dimensões. Tem de parar.

Clareira numa floresta tropical. Duas silhuetas pintam o céu. Chega um rapaz. Como é que te chamas? Vens pintar? De onde és? Estás sozinho? Guincho de sofrimento. As memórias da realidade são excruciantes.

Cemitério. Porque é que ele continua preso? Eu fiz o que consegui, mas fora do livro é demasiado longe. Se ele não controla a escuridão que exala... é uma abominação para lá da salvação. Ajuda-me. A escuridão procura a luz que quer restituir. Não te preocupes, autor, eu vou descobrir como evitar a conclusão. O alfarrabista guincha de sofrimento quando alucina com o fim.

Hoje tememos que o mais pequeno ponto no céu nos destrua. A todos.

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