X.Meios para um Fim

Sala redonda com treze assentos dispostos em círculo. Cada trono tem um número e doze deles estão ocupados pelos protagonistas, deixando um lugar vazio. Cinco deles estavam mortos. O tempo está claramente parado. Tudo isto foi decidido. Começou o autor. Hoje vamos abandonar o livro e voltar a ser quem éramos. A partir daqui só o futuro nos cega.

Os amigos que perderam e os sonhos que se fundiram falharam a entender a felicidade. Conhecemo-nos bem demais. Somos mais do que devíamos. Disse o número treze. Sim, algumas mortes foram traições. Quando escrevi o livro ressuscitei as almas que sacrificámos. É por isso que aqui estou? Perguntou Alice. Tu e o teu irmão, o Recusante, foram excessos. As vossas mortes estavam próximas do meu coração. Não vamos regressar? Nunca regressámos. Respondeu o Recusante.

O destino é da sorte e não do tempo. Cada um serviu o seu fim. Vocês recordaram histórias desconhecidas. Compreendi que o desafio à balança tem interferências. Outra voz. Há quem não tenha abandonado os seus objectivos.

Os treze tronos estão preenchidos. O livro vai ser queimado. Assim que o autor apontou a chave ao livro, as vozes das personagens começaram a ecoar. Nunca vais ser feliz. Não sabes como. Sabes o que é poder. E sabes que o podes perder. Volta para o País das Maravilhas, mãe! A polifonia intensifica. Os tronos discutem.

O autor cai do trono, desmaiado. As personagens levantam-se, falam. A confusão dissipa-se e com ela a nitidez da visão. A silhueta do décimo-primeiro trono aproxima-se e tira o capuz. Tu?
"Se às vezes me julguei desgraçado, deve-se a uma confusão, a um erro. Tomei-me por outro, por exemplo, por um suplente que não pode chegar a titular, ou pelo acusado num processo de difamação, ou pelo apaixonado que é desdenhado, ou pelo doente que não pode sair de casa, ou por outras pessoas que sofrem de análogas misérias. Eu não fui essas pessoas; isso, quando muito, foi o disfarce que vesti e que deitei fora. Quem sou eu realmente? Sou o autor, sou o que deu uma resposta ao enigma do Ser, que irá ocupar os pensadores dos séculos futuros. Esse sou eu, e quem poderá discuti-lo nos anos que ainda me restam de vida?"
- Arthur Schopenhauer
Sem ti não seria o que sou. Não tive escolha. Ensinaste-me que o amor é uma fraqueza. E eu descobri que tu és a minha fraqueza. Foi por isso que te quis tirar da história. Para o que eu queria fazer, eu não podia ser fraco. Mas a forma como tu te agarraste ao meu coração...

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